Quarentena não é competição de produtividade. CP#46
Consistência e produtividade em tempos de isolamento social.
Nesta edição:
I. Consistência e produtividade em tempos de COVID-19
II. Conecta Links
III. Conecta Livros
IV. Só mais uma dica.
Bom dia, boa tarde e boa noite. Você está bem?
Não sei na sua, mas na minha timeline ainda não consigo identificar se há mais gente incentivando a ser produtivo em tempos de quarentena, ou gente condenando quem fala sobre ser produtivo em tempos de quarentena. Imagino que você também não aguenta mais gente falando sobre produtividade ou a falta dela.
Eu prometo ser breve nesse papo.
I. Consistência e produtividade em tempos de Covid-19.
Ok, já sabemos que o “Shakespeare escreveu sei lá que obra prima durante um período de isolamento forçado”, que o “Newton desenvolveu a teoria da gravitação universal na quarentena da peste bubônica” e que a “Frida Kahlo pintou seu famoso auto retrato durante reclusão”.
Sem falar nos seus colegas que estão aprendendo línguas estrangeiras, lançando podcasts e virando mestres do sabor na cozinha.
Sinto uma forçação de barra em cobrar produtividade e se mostrar produtivo nesse período. É quarentena. É pandemia. É crise econômica sem precedente em gerações. Ser produtivo é sobreviver.
Quarentena não é competição de produtividade. E ninguém tem que se sentir culpado por estar dormindo demais ou dormindo de menos. Por estar trabalhando de menos ou trabalhando demais e nem por estar se divertindo demais ou se divertindo de menos.
Dito isso, todavia, contudo, entretanto, eu até gostaria de falar mais sobre isso, produtividade, mas lembrei que tenho certo ranço desse termo. Acho que de tanto que ele passou a habitar o universo da auto-ajuda e das frases motivacionais de Instagram. E também que li esse excelente artigo da Wired, que fala boa parte do que queria falar e, com certeza, fala melhor do que eu escreveria aqui.
Só que também não queria deixar de enviar uma edição hoje porque, vejam só, quero me sentir produtivo. E ser produtivo aqui é conseguir manter a consistência prometida (e jamais alcançada) e sentar pra escrever e apertar "enviar" uma sexta feira sim e outra não. A "sexta não" foi semana passada, então, essa era a "sexta sim".
Apesar do ranço ser um sentimento sem volta, pego esse gancho pra dizer que ser produtivo pra mim é sobre disciplina, sobre manter as coisas em ordem, sobre cultivar o jardim que posso tocar da melhor forma. E como já contei na edição #35, essa newsletter é responsável por manter um dos pilares desse jardim de pé, logo, é importante conseguir mandar ela pro ar. Sempre, é claro, de uma forma que acredito ser interessante e relevante pra você também.
A cabeça não tá muito legal pra desenvolver muito nenhum tema (não que eu faça isso muito bem aqui) mas justamente pra manter a cabeça em boas condições é que seguirei com o compromisso de colocar as edições no ar de acordo com o combinado.
Vou aproveitar que espanquei menos o teclado nessa parte pra caprichar na curadoria dos links.
Você não tem que se sentir culpado por não conseguir fazer nada de "útil" em meio a esse caos. Você não tem que nada. Apenas se apegue ao que pode te ajudar a ficar bem e sobreviva.
🔗Conecta Links
◾ Por que o foco na produtividade não está funcionando? [Leitura, 4 min, em português]
A produtividade virou uma espécie de métrica individual para lidar com essa confusão criada pela crise. O artigo da Wired que mencionei na primeira parte fala sobre como essa produtividade pautada pela economia moderna e a vida centrada no trabalho não é uma boa métrica. Já esse link traz um resumo daquele artigo, em português, feito pelo Lucas Casanova no Medium.
◾ Como pensar sobre coronavírus, pandemia e crise econômica [Leitura, 23 min, em português]
O Startup da Real publicou um texto sobre o coronavírus onde compartilha bases teóricas para entender a pandemia e aborda informações importantes para combater mentiras em meio à crise. Texto com selo Star de qualidade. Leia no seu tempo, é importante.
◾ É hora de construir [Leitura, 5 min, em inglês]
O Marc Andreessen, da firma de capital de risco Andreessen Horowitz, publicou uma espécie de manifesto em que fala, basicamente, que os EUA (e o mundo ocidental) falharam muito em se preparar para a crise do coronavírus e que boa parte disso é culpa da falta de capacidade produtiva. "Parte do problema é claramente de previsão, uma falha de imaginação. Mas a outra parte do problema é o que não fizemos antecipadamente e o que não estamos fazendo agora. E isso é uma falha de ação, e especificamente nossa incapacidade generalizada de * construir *."
◾ O Podcaster Pagliacci [Áudio, 45 min, em português]
O Cris Dias voltou com o Boa Noite Internet pra falar sobre como produzir conteúdo que inspira as pessoas quando quem cria o tal conteúdo está “desinspirado” pelos rumos que o mundo está levando nessa época de Covid-19. Papo também super necessário e importante.
◾ Máscaras deveriam virar declaração de moda? [Leitura, 5 min, em inglês]
Vanessa Friedman, que escreve sobre moda no NYT traz o questionamento. “Quando as máscaras migram para o mundo da moda, elas se tornam outra coisa. Como todos os acessórios (sapatos, bolsas, lenços), elas viram símbolos não apenas de saúde ou de preocupação social, mas de identidade. Afinal, com a face inferior coberta e, muitas vezes, os olhos sombreados por óculos de sol, os sinais usuais de personalidade ficam ocultos. A máscara se torna o primeiro significante do indivíduo. E isso significa que também se tornará um sinal de aspiração, conquista –e desigualdade”.
◾ Guia despretensioso de como fazer um podcast [Leitura, 5 min, em inglês]
Se por acaso você estiver pensando em tirar aquela ideia de podcast do papel, agora ou depois que isso tudo passar, esse guia do Manual do Usuário tá bem legal.
◾ Um passeio em 3D por diversos locais que são patrimônios mundiais da Unesco. [No seu tempo, em inglês]
Arte em tempos de pandemia.
📚 Conecta Livros
◾ Um homem bom é difícil de encontrar e outras histórias, de Flannery O´Connor.
Editora Nova Fronteira. 224 páginas.
Lançado em 1955, essa é a mais famosa de todas as obras de Flannery O’Connor e aquela que a consagrou como uma das maiores escritoras do século XX. É incrível como em contos de poucas páginas a autora desenvolva histórias tão profundas. São contos que se abrem como uma janela para o grotesco da alma humana e transbordam confrontos entre raças, entre sexos, entre idades, entre espaços urbanos e rurais. É um livro sobre a ignorância, sobre as contínuas tensões da religiosidade, moralidade e realidade. Nunca tinha lido nada parecido. De me deixar desnorteado, de um jeito bom, se é que isso existe.
◾ A mais breve história da Europa, de John Hirst
Eu gosto de livros de história. E o que estamos fazendo hoje senão vivendo um desses eventos que estarão nesses livros daqui pra frente. É pra isso que lemos sobre a história, para entender como chegamos até aqui e para que possamos aprender, processar e colocar em perspectiva o que está acontecendo no momento. Nesse livro o autor identifica as três forças que deram origem à civilização europeia: a cultura da Grécia e da Roma antigas; o cristianismo; e a cultura bélica e feudal dos germânicos. A partir daí mostra o florescimento da europa ocidental como a conhecemos hoje. É bem didático como uma verdadeira aula.
🎥 Só mais uma dica: Arremesso Final.
Só pra se manter no assunto consistência e produtividade, se tem um cara e uma equipe que personificam isso e muito mais, é o Jordan e o Chigago Bulls dos anos 90. Esse documentário estreou tem pouco tempo na Netflix e dos dez episódios apenas dois já estão liberados (serão dois por semana). Como fã de esporte e da NBA em geral e do Jordan e dos Bulls em específico, já posso adiantar que isso aqui é das melhores coisas que tá tendo na Netflix hoje. Esses dois primeiros episódios já superaram as expectativas. Com muitas imagens, cenas de bastidores e entrevistas inéditas, recomendo pra todos que querem conhecer mais sobre um dos maiores esportistas de todos os tempos e tudo que levou a ele e toda a franquia dos Bulls chegarem onde chegaram.
Tá aí. Feliz por cumprir o combinado. E lembrando, quarentena não é competição de produtividade. Se cuide e encontre suas próprias formas de se manter bem na medida do possível.
~ Edgar Oliveira
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