Conectando Pontos #35
CP#35 - Cultivando "a musa" e, esse é o ano da newsletter no Brasil?
Opa, tudo bom por aí?
Dei de novo aquela sumida né...
Já estamos na metade do 2019 e essa só é a quinta newsletter que envio no ano. Esperava mais. Preciso de mais.
I. Cuidando dos seus pilares
Eu preciso escrever. Eu adoro escrever. E adoro escrever nessa newsletter. Adoro escrever, editar, enviar, interagir e cultivar cada relacionamento e oportunidade que surge a cada entrega em forma de e-mail.
Não praticar esse ritual necessário para enviar uma nova edição contribui demais para que a estrutura do meu dia a dia não fique bem. Me parece que algo na fundação se desestabiliza e mexe no arranjo dos meus dias.
Todo mundo tem sua fundação, seus pilares de sustentação, as áreas da vida que, firmes e em ordem, mantém o sistema em equilíbrio. Saúde, relacionamentos, trabalho, saldo bancário, etc. A combinação dessas áreas forma nosso alicerce pessoal que além de manter a estabilidade, garante a base que nos impulsiona para frente.
Se os pilares não estiverem firmes, estabilizados, sempre nos sentiremos incompletos não importa a conquista significativa alcançada. Por outro lado, com o alicerce firme, mesmo nas dificuldades pessoais, o sentimento de contentamento com as mínimas conquistas e de completude com a vida, poderá ser apreciado.
Ter todos os pilares firmes e em ordem não é fácil e diria até que é um luxo para poucos. Mas basta estar dedicando recursos para mantê-los de pé que a sensação de estar fazendo o que tem que ser feito é suficiente para te dar alguma sensação de que está no caminho, priorizando a coisa certa.
Porém, para dedicar energia e atenção ao alicerce, outras coisas não podem fugir do controle. Falamos aqui sobre as coisas que você consegue controlar.
É importante ser cuidadoso e não deixar as pequenas rotinas desandarem. O caos penetra na ordem e a partir do momento que tarefas simples mas necessárias do dia a dia saem do controle, o caos vai se instalando. Quando menos perceber, sua energia estará sendo sugada pela bagunça e seus pilares não receberão a atenção necessária.
Manter o corpo ativo e saudável é um desses meus pilares. E o risco de ser muito ativo são as lesões e, sempre que acontecem ainda sinto um duro golpe na fundação.
Escrever ou a escrita em si, não é nenhum desses meus pilares mas é uma dessas tarefas rotineiras que ajudam a manter um deles em ordem. Percebi também que escrever para essa newsletter especificamente, na verdade ajuda a manter mais de um dos meus pilares em ordem.
E é por isso que esperava mais e preciso de mais. Essa newsletter é a minha “musa” e, enquanto não tiver outra, é dela que preciso cuidar.
II. "A Musa"
Se evocarmos a educação da antiguidade ou como diz Patão na República, a educação dos “bons tempos”, veremos que ela compreendia um duplo aspecto: a ginástica para o corpo e a “música” para a alma.
Desde as origens, a cultura e a educação gregas revestem, ao lado do esporte, certo elemento espiritual, intelectual e artístico a um só tempo. Música, significa aqui o domínio das Musas.
Na Grécia antiga, musa podia significar canção ou poema. (A palavra música é derivada do grego musiké téchne que significa “a arte das musas”). Mas também tinha seu significado mitológico.
Na mitologia grega, cada evento ou acontecimento é comumente ligado à entidades divinas. Assim, tudo era personificado, desde uma simples brisa até uma tempestade de raios, sendo tudo responsabilidade dessas entidades.
Não é a toa que existem muitas e muitas dessas divindades na mitologia grega, tais como as 9 musas do Olimpo que eram as responsáveis por inspirar e proteger tanto as áreas artísticas como as científicas.
As musas eram, portanto, divindades que os gregos antigos acreditavam existir e a quem era atribuída a capacidade de inspirar a criação artística ou científica. Sempre que precisavam de inspiração para realizar alguma atividade desse tipo, os gregos recorriam a sua musa específica.
Voltando para o nosso tempo, o significado de musa tornou-se abrangente sendo utilizado no sentido figurado para designar a mulher amada ou aquela que traz inspiração. Popularmente o termo é ainda usado como referência a belas mulheres que inspiram ou despertam o desejo do público.
Ainda nos dias atuais, com a proliferação da cultura dos side hustles, temos no mundo dos negócios um outro sentido para a palavra musa. Pra resumir, se entende por side hustle qualquer coisa que você faz para ganhar dinheiro fora de um emprego tradicional.
Diferente de um part time job ou de um hobby, um side hustle é uma espécie de side business ou uma side gig. E pra não ficar usando esse monte de palavra em inglês e pra trazer pro contexto que gostaria, vou pegar essa definição que o Tim Ferris usou no seu livro “Trabalhe 4 horas por semana”.
“Nosso objetivo é simples: criar um veículo automático de geração de renda sem consumir tempo. Só isso. Chamarei esse veículo de “musa” sempre que for possível para separá-lo do conceito ambíguo de negócio, que pode se referir a uma banca de limonada ou a um dos 10 maiores conglomerados petrolíferos — nosso objetivo é mais limitado e por isso requer uma denominação mais precisa.”
A musa, nesse sentido, seria um negócio de baixa manutenção que gera renda significativa. Nada de mudar o mundo, nada de milhões de dólares. Apenas algo pequeno que ajude a pagar as contas e que pode ser a alavancagem para financiar seu estilo de vida ideal. Milhões de millennials estão atrás dessas musas ou já trabalham com elas.
Quando falo que essa newsletter é minha musa, não me refiro a esse side hustle nem aquele sentido dos tempos antigos. É algo no meio do caminho, que pega um pouco das duas coisas.
Tem a ver com a inspiração que vem de encarar a tela em branco, me sentar com meus pensamentos, com meus livros e anotações, refletir sobre o que tem me incomodado e sobre o que posso expressar e compartilhar.
E também tem a ver com entregar algo pronto. Com gerar algum valor ao mesmo tempo em que se faz algo que gosta e se identifica. E ainda receber um retorno, se não financeiro, em forma de aprendizados, relacionamentos, oportunidades e reconhecimento.
Essa poderia simplesmente ser a definição de um hobby. Mas é um pouco mais que isso. Tem um compromisso, uma energia criativa e um potencial de empreendimento maior envolvido.
É com essa definição de musa que encaro essa newsletter e equilibro a atenção e energia a ser dedicada a ela. Se cultivar demais provavelmente estarei negligenciando meus pilares. De menos como foram as últimas semanas, estarei contribuindo com outro duro golpe neles.
III. "Esse é o ano do e-mail no Brasil"
Se tem uma atividade que gosto de incentivar é a leitura. Outra prática que acho que você também deveria adotar é a de escrever mais. Essas são duas das coisas menos complicadas e mais importantes que você pode fazer hoje: ler e escrever mais.
Eu já contei um pouco sobre como começou minha relação com a escrita aqui. Acredito que é uma atividade simples e eficiente que nos ajuda a pensar melhor e a enxergar tudo com mais clareza, se praticada com regularidade.
Eu não apenas gosto de escrever nos meus cadernos e rascunhos como gosto muito de escrever uma newsletter, como já ficou óbvio. Acho o melhor formato pra se consumir conteúdo hoje em dia. É uma ótima maneira de se conectar mais com os autores que admira e se importa, além de receber um conteúdo bem curado que fica a disposição no e-mail para ser lido no seu tempo.
Sou um colecionador de assinaturas. Newsletters com objetivos claros, direcionados a nichos específicos, com especialistas como autores, assim como newsletters de pessoas que gosto de acompanhar seja pela boa curadoria de conteúdo, pela boa escrita ou por partilhar de uma visão de mundo que respeito e admiro.
Mas se tem uma pergunta que sempre me faço, é se você aí do outro lado precisa de mais uma newsletter pra ler.
A resposta quase sempre é não, especialmente quando se trata de uma newsletter de cunho mais pessoal, sem objetivos claros, sem um nicho específico e sem um especialista em alguma coisa por trás, como é o caso aqui. Depois de tudo que escrevi nessa edição, pode soar contraditório dizer isso mas sempre acho que você aí não precisa de mais informação, opinião e, principalmente, mais atualizações sobre mim — o que ando lendo, o que tenho feito, o que to pensando ou aprendendo — na sua caixa de entrada.
Por outro lado, se vamos falar em escrever e compartilhar conteúdo na era da internet, talvez o melhor lugar para se fazer isso hoje, ao mesmo tempo em que ainda constrói uma relação mais íntima e de confiança com quem estará do outro lado, é aqui no e-mail.
Eu entendo quem fala que ninguém precisa de mais informação agora até invadindo nossa particular caixa de correio virtual. E entendo também da onde vem minha pergunta e a invariável resposta. Mas na real ainda acho que tem muito espaço pra esse formato.
E também acho que se você quiser começar a escrever uma newsletter e compartilhar seus pensamentos, seus hobbies, as peripécias do seu gato e ainda treinar sua escrita, nada deveria te impedir.
Se a frase do ano passado, “esse é o ano do podcast no Brasil”, continua fazendo sentido em 2019, me parece que já podemos adaptar o meme para: “Esse é o ano das newsletters no Brasil.” E torço para que mais gente continue chegando.
Escrever pode ajudar você na manutenção dos seus pilares. E já que esse é o ano do e-mail, vale colocar esses pensamentos e essas ideias aí nesse correio online. Uma delas pode acabar virando sua "musa".
E pra continuar com as contradições, termino fazendo o que não aconselho muito — dando conselhos: Defina, construa e cuide dos seus pilares; encontre sua “musa”; e escreva mais. Se for numa newsletter, me diz onde eu assino.
Conecta Links
Se esse é o ano do podcast no Brasil, aí está a minha primeira participação em um. Fui convidado e super bem recebido pela Brenda que a cada episódio desse podcast apresenta livros que trazem novos olhares sobre os mais variados assuntos. Bom pra quem quer descobrir novos livros que trazem um olhar diferente sobre vários campos da vida. Batemos um papo legal sobre hábitos de leitura e saí animado pra entrar nesse mundo da podosfera.
Escritor e cofundador do Kickstarter, maior site de financiamento coletivo do mundo, Yancey Strickler afirma que usuários da rede estão se recolhendo para canais mais restritos e privados. Um conceito interessante que ajuda a entender o fenômeno das newsletter e do Medium, por exemplo.
Sabedoria encapsulada em forma de lembretes. Se falei de pilares, o estrategistas trouxe mantras, que são um excelente complemento e inspiração para quem busca definir, construir e cuidar de seus alicerces.
Se tem uma corrente filosófica de espírito prático e voltada para o enfrentamento das dificuldades humanas na vida diária, é o estoicismo. Essa série da Sabrina, cheia de exemplos reais e pessoais, com 365 textos, um por dia, é ótima pra quem quer ter um contato com essa filosofia que prega o foco no momento presente, no que controlamos e que usemos os obstáculos como oportunidades de prática para o cultivo de nossas virtudes.
É o que diz o ganhador do Prêmio Nobel, Daniel Kahneman. No texto ele traça uma interessante distinção entre felicidade e satisfação, sugerindo que as pessoas querem a primeira mas acabam perseguindo a última. Kahneman argumenta que a satisfação é baseada em comparações. Já os sentimentos fugazes de felicidade não contribuem para a satisfação com a vida. "A chave aqui é a memória. A satisfação é retrospectiva. Felicidade ocorre em tempo real."
Se quiser me encontrar em outras redes, fique a vontade :)
Conecta Livros
Você já deve ter percebido que não tenho enviado mais os e-mails mensais das "Recomendações de Leitura" com tudo que li no mês. Mas sigo fazendo isso basicamente lá no instagram @conectandopontos, então, aproveita pra seguir lá também.
(Clique nas imagens para mais informações sobre os livros)
A ideia de escrever a nosso próprio respeito para criar um espelho no qual outras pessoas reconheçam a própria humanidade não existiu sempre. Foi inventada por Michel de Montaigne. Um filósofo que, por exemplo, não escrevia como se deve viver bem. Mas sobre o que ele fazia para viver bem e como se sentia ao fazê-lo.Tentando responder a pergunta do título, a autora se baseia na biografia e na principal obra do filósofo e escritor e o resultado é primoroso. É difícil ler Montaigne e não se identificar. Ele ainda aparecerá muito por aqui.
Chris Guillebeau apresenta o Side Hustle School, um podcast diário com histórias desse universo. Também é autor de vários livros, entre eles "Side Hustle: From idea to income in 27 days". Apesar dos títulos forçados e de uma pegada que nem curto tanto mais, o Chris tem coisas interessantes pra mostrar. A Startup de $100 é seu bestseller e gostei bastante na época em que li. Se tem interesse em saber mais sobre a cultura side hustle, pode ser legal acompanhar o Chris.
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Para assistir - Série documental: Losers
Losers, uma nova série de documentários no Netflix, explora 8 histórias reais de perdedores para mostrar como é o outro lado. Os episódios mostram atletas de diferentes e inusitadas modalidades que não conseguiram se tornar grandes nomes ou sequer começar uma carreira. Losers mostra que estas pessoas, consideradas perdedores em suas trajetórias, encontraram um novo caminho em suas vidas – muitas vezes bem diferente do que podiam imaginar. Com uma forma bem criativa de contar essas histórias e com episódios curtos, o conjunto da obra é bem legal e o conteúdo é muito bem aproveitado.
Vou manter o que escrevi aqui no final da última news (porque agora vai!): O ritmo aqui tá voltando ao normal e espero conseguir voltar a manter nossa periodicidade quinzenal. Obrigado pelas mensagens na última edição.
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