Conectando Pontos - CP#28
CP#28 - A razão perderá o trono outra vez?
O apaixonado que enruste seus sentimentos: Possuído por um amor “platônico”.
Os que se preocupam com injustiças sociais e a miséria humana: “marxista”, “cristão”.
O que usa truques e armadilhas para atingir seus objetivos: “maquiavélico”;
É interessante observar como o nome de certos pensadores foram transformados em adjetivos. Usamos esses adjetivos quando adotamos certa compreensão acerca do mundo que se aproxima das ideias desses pensadores. Nos casos acima: Platão, Marx, Jesus e Maquiavel.
Esses adjetivos podem ser proferidos e recebidos como elogios ou xingamentos. Um outro exemplo é Descartes, que deu origem ao adjetivo “cartesiano”, considerado por muitos um séria ofensa. O cartesiano seria aquela pessoa fria e calculista, que não deixa lugar para as emoções e é excessivamente lógico.
Porém, ser “cartesiano” e ser “frio e calculista” não são sinônimos. Pelo menos, não mais. As últimas descobertas da neurociência mostraram que razão e emoção não são separadas.
Se não está convencido a respeito desse último parágrafo, clique na imagem e leia no texto completo sobre os nossos dois modos de pensar, que apesar de distintos, interagem e de uma maneira muito complexa e integrada:
Precisamos de mais "cartesianos"
A principal contribuição de Descartes a seu tempo e aos séculos que se seguiram foi tentar fortalecer a Razão como uma ferramenta confiável para o ser humano poder interferir sobre a realidade.
Mas por qual motivo, em sua época, havia tanta preocupação e debate em torno da razão? Afinal de contas, na cultura ocidental, a racionalidade do homem parecia coisa evidente desde o século IV a.C., quando Aristóteles elaborou essa definição do ser humano.
Em algum momento da história do Ocidente, porém, a racionalidade deixou de ser considerada a marca humana mais característica: em algum período, o homem não foi considerado como ser sobretudo racional.
O período da Idade Média, considerada por alguns historiadores como “Idade das Trevas”, é considerado responsável pela Razão sair de cena. Essa foi uma época em que tudo estava envolto numa aura de religiosidade e misticismo.
Apesar disso, muito se estudou e muitos avanços foram feitos na Idade Média.
A época atual, por exemplo, apesar das turbulências e das manchetes que deixam qualquer um preocupado, é, segundo especialistas, a melhor para se viver. Muito graças a força da razão e da ciência.
Livros como “O Otimista Racional”, “Abundância” e o mais recente de Steven Pinker, “O Novo Iluminismo”, nos mostram que a vida, a saúde, a prosperidade, a segurança, a paz, o conhecimento e a felicidade estão em ascensão, não apenas no Ocidente, mas em todo o mundo.
Este progresso não é o resultado de alguma força cósmica ou de um ser superior. É ela um presente do Iluminismo: a convicção de que a razão e a ciência podem melhorar a humanidade. Pinker defende a razão, a ciência e o humanismo como os ideais de que precisamos para enfrentar nossos problemas e continuar progredindo.
Em paralelo a isso, também é possível observar um aumento do misticismo, de preconceitos grosseiros, de fundamentalismo religioso, de pessoas sendo corrompidas por charlatões e pelo consumo de pseudociência.
Na época de Descartes, a racionalidade humana foi um problema que levantou muita preocupação e debates, justamente pelo aumento de questões como essas.
A teoria desses pensadores são produzidas a partir das experiências que viveram, daquilo que desejaram ou necessitaram. E esses desejos e necessidades dependem muito da sociedade e da época em que esses pensadores estavam inseridos. Tivesse nascido em outros tempos talvez, Descartes não sentiria necessidade de buscar as mesmas respostas.
Me pergunto, então, se o filósofo se sentiria angustiado e tentado a começar sua busca pela Razão se tivesse vivido no século XXI.
Com suas buscas e descobertas, ele participou da demolição de fortalezas da intolerância religiosa e das superstições. Seu racionalismo foi uma vacina contra os preconceitos e os argumentos autoritários.
E apesar da época próspera, precisamos ainda mais disso.
Se é para adjetivar alguém com nomes de pensadores, que encontremos então, muito mais com as características de um “cartesiano”.
Para muitos, essa é uma semana de ressaca brava, para outros muitos, é uma semana de renovação. Seja lá qual for seu sentimento, que pode ser um misto dos dois ou qualquer outro, e sem querer ser pessimista, a garantia que temos é de que os próximos anos serão difíceis. E seriam difíceis também com o outro candidato eleito.
Não acho que é hora de dar um tempo na política. As eleições acabaram no domingo e agora começa uma nova fase. A de cobrar, fiscalizar e fazer a própria parte para superar os tempos difíceis. Descanse, se cuide e bora a luta.
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Ser mais racional passa por ter uma visão de mundo mais realista. Quando o assunto é empreendedorismo, vejo pouco material que reflete a verdadeira realidade. Esse é um texto bem honesto, realista, e com dicas bem práticas e objetivas.Hemingway, uma mala perdida e a receita da estupidez
Não importa quão boa sejam as nossas intenções, as vezes fazemos coisas incrivelmente estúpidas, como perder uma mala cheia de escritos de valor inestimável. Neste artigo, aprenda a reconhecer o potencial de estupidez antes que isso aconteça.Sobre o Óbvio
Um texto genial de Darcy Ribeiro sobre a crise da educação no Brasil.
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Conecta Documentário - Follow This
(Clique na imagem para o trailer)
Follow This é uma mini-série de documentários produzidos pelo Buzz Feed com qualidade de primeira e temas relevantes envolvendo cultura de internet. É interessante pra observar cenários bem diferentes da nossa bolha.
Os episódios são curtos, e valem muito a pena.
Conecta Livros
(Clique nas imagens para mais informações sobre os livros)
O livro que trata da história por trás do livro do Danny Kahneman (Rápido e Devagar) citado no texto inicial dessa news e recomendado há algumas semanas atrás. Acompanhamos toda a trajetória individual e depois de parceria dos brilhantes Daniel Kahneman e Amos Tversky e a origem de suas teorias. É uma ótima porta de entrada para os estudos sobre as “falhas” em nossos modos de pensar
Carl Sagan, através dos seus livros e outros trabalhos, foi um grande responsável por mover nossa sociedade para cada vez mais longe da escuridão da ignorância, trazendo conceitos científicos para o contexto do dia a dia. "Deixe sua mente aberta, mas não tão aberta que o cérebro caia pra fora" é uma frase que resume bem tudo que o livro representa. Livros como esse, que buscam identificar e nos proteger de charlatães são sempre bem vindos.
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